Centro de Práticas e Saberes Decoloniais
C.P.S.D.

Relações entre os PPGAS e as ações afirmativas no Brasil – CECT/ABA

Imagem-conhecimento Javaé/Acervo Retomada Epistêmica

O evento “Relações entre os PPGAS e as ações afirmativas no Brasil”, organizado no âmbito da CECT/ABA, com apoio do PPGAS/UFG e do Núcleo Takinahaky de Formação Superior Indígena/UFG contou com a coordenação do professor dr. Alexandre Herbetta (NTFSI/PPGAS/UFG), com as falas do professor dr. José Jorge de Carvalho (PPGAS/UnB), das doutorandas Marta Quintiliano (PPGAS/UFG), Joelma Andrade (PPGAS/UFBA) e do professor Ms. Felipe Tuxá (LICEI/UNEB; PPGAS/UnB). Realizamos uma discussão profunda sobre as políticas de ação afirmativa e a relação das mesmas com os PPGAS pelo Brasil, que pode ser acessada em: Relações entre os PPGAS e as ações afirmativas no Brasil – YouTube https://www.youtube.com/watch?v=ci6uaSP0z24

Percebemos em primeiro lugar a complexidade das referidas políticas, o que elas acessam e como causam impactos. Falamos, então, sobre alguns dos temas afins, como o sofrimento psíquico decorrente de um espaço que permite o acesso, mas que impõe práticas ainda baseadas em um racismo epistêmico, o que dificulta a permanência de estudantes. Ressaltamos práticas como: 1) a hegemonia da escrita em detrimento da oralidade, 2) a hegemonia da língua portuguesa em detrimento de línguas originárias, 3) a hegemonia de uma matriz curricular totalmente centrada em conhecimentos eurocentrados em detrimento de um sem número de contribuições e reflexões geradas a partir de outras epistemologias, 4) a imposição de tempos e rotinas administrativas que nem tomam em consideração outros contextos, como o de estudantes que vivem em territórios originários, para dar um exemplo, 5) a falta de preparo e formação de toda a comunidade acadêmica para o tema da diferença, o que gera um sem número de situações de discriminação em relações interpessoais no âmbito da universidade e 6) a falta de ações que criem espaços de convivência intercultural, pautados na noção de coletivo.

Note-se que em nenhum momento se foi contra a escrita, o idioma português e autores eurocentrados, de uma maneira dicotômica, mas, sim, ao contrário, se pensou nas razões por trás do fato de que há uma hegemonia de um sobre o outro, uma imposição de práticas que ainda excluem, como se pensa no campo da interculturalidade crítica. Pensamos também na possibilidade ou não de um espaço acadêmico pautado na ecologia de saberes. Propusemos um manifesto para uma ampla mudança curricular nos PPGAS. Enfatizamos bastante a violência epistêmica por trás de uma formação quer seja de graduação ou de pós-graduação que tem apenas como base saberes eurocentrados e questões distantes dos contextos locais brasileiros. Discutimos também a situação absurda de não haver docentes indígenas, negrxs, negrxs quilombolas, ciganxs nos departamentos de antropologia, sendo tais grupos sempre temas centrais do campo de saber referido.

Falamos, igualmente, da importância dos espaços dos PPGAS no contexto, ressaltamos como são os lugares que normalmente, nas universidades, propõem ações e problematizações que buscam avançar nos temas elencados acima. Identificamos mudanças interessantes no perfil discente, avanços pontuais em mudanças em matrizes curriculares, problematizações de práticas pedagógicas e métodos investigativos, ações para apoio ao longo da trajetória acadêmica, as quais têm a ver com o acesso a bolsas, mas não se esgotam aí e, falamos também, da ainda enorme dificuldade em uma mudança no perfil docente, de modo a se ter docentes provenientes de outros contingentes populacionais. Nos baseamos especialmente nas experiências apresentadas dos PPGAS da UFG, Unb, UFBA.

Ressaltamos, por fim, a relação fundamental, no momento, entre os PPGAS e os Cursos de Educação Intercultural Indígena, espaços que pensam a universidade junto a outras epistemologias. Percebemos que as propostas elencadas, os temas debatidos, e as ações propostas partem muitas vezes das dinâmicas presentes nestes cursos. Entendemos, então, a necessidade de haver ações que vinculem e articulem tais lugares para a potencialização das ações.

Por fim, nos mostramos preocupados com o cenário de ataque às políticas educacionais atuais e defendemos veementemente a manutenção, refinamento e intensificação, desde uma perspectiva epistemológica e política, das políticas de ação afirmativa. Concluímos que é necessário uma transformação estrutural da universidade, que passe a levar em consideração os modos próprios de ser de outras populações, epistemológica, cultural e socialmente diferenciadas, para um projeto de uma sociedade mais justa, democrática e sustentável.

Alexandre Herbetta

15 de novembro de 2021

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